sábado, 22 de janeiro de 2011

Porque Assessorar Organizações de Base

Por Gláucio Gomes

Nos últimos anos muito tem se investido em organizações de base no Brasil. Não há dúvida que entidades endógenas, autogestionárias e que representam as comunidades e grupos sociais são fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico do país. Formam o tecido social que dá sustentação, força e capilaridade à democracia. Essas pequenas e médias organizações são produtoras de conhecimento, difusoras de saber e criadoras de tecnologias sociais que refletem a diversidade cultural brasileira.

Para o investidor social, há a certeza de que os recursos aplicados estão chegando diretamente às comunidades e famílias que são os reais alvos de seus apoios.

Tudo isso é verdade. Um grande indicador do processo de democratização das agendas, ações e políticas públicas no Brasil é justamente o desenvolvimento e a diversificação de sua sociedade civil. E o fortalecimento das organizações de base aponta para descentralização da gestão, do planejamento e da própria construção dos programas de atendimento às demandas locais. O desenvolvimento das organizações de base significa a participação das pessoas comuns nos processos decisórios em nível local. Cada vez mais, através de organizações legítimas e estruturadas, as pessoas falam por si no Brasil e atuam de modo propositivo, inovando, criando soluções para seus desafios e para potencializar as suas vocações e oportunidades.

No entanto, o desenvolvimento das organizações de base tem um teto. Normalmente, essas entidades têm uma forte atuação política, especialmente no campo da governança local. Estão integralmente voltadas para realizar suas atividades-fim, que justificam e dão vida para sua existência e para mobilização de seus integrantes. Pensam e executam projetos, ações pontuais e atividades que atendem às demandas de modo direto e eficiente. Mas, e a subsistência, manutenção e o desenvolvimento dessas instituições? Será que elas têm conhecimentos, ferramentas e competências de gestão estratégica e operacional, adequadas e necessárias para sua sustentabilidade?


Por muitos anos, outro segmento de organizações sociais sem fins lucrativos atuou dando suporte nessas áreas e fornecendo ferramentas de gestão, planejamento, comunicação e avaliação para essas entidades de base. Permitindo que essas entidades pudessem se dedicar às suas missões e aos seus projetos, enquanto técnicos e especialistas contribuíam para garantir seu fortalecimento institucional. Essas entidades elaboravam projetos de captação de recursos, assessoravam o planejamento participativo das comunidades e conduziam avaliações diagnósticas e de resultados das ações junto com os atores das bases. E capacitavam esses atores para tomarem melhores decisões e serem mais eficientes em seus trabalhos. Essas organizações de assessoria eram fundamentais para a sustentabilidade das organizações de base. Não as substituíam e sim as complementavam.


Hoje, essas organizações de assessoria ainda existem. Muitas fecharam as portas. Das que continuam funcionando, a grande maioria sobrevive com muitas dificuldades. Com o foco atual dos investidores sociais nas organizações de base, são muito escassos os recursos para esse segmento institucional. O enfraquecimento das instituições de assessoria representa uma ameaça para o desenvolvimento das bases sociais. Um limite claro para o crescimento de organizações pequenas e médias, que demandam apoio para que, em longo prazo, cresçam e sejam capazes de representam efetivamente o potencial de suas comunidades.

Os investidores sociais que buscam sustentabilidades e impactos sociais duradouros em suas ações precisam reconhecer essa cadeia produtiva no Terceiro Setor. Onde as bases sociais, organizadas, vêem seu trabalho facilitado e potencializado por uma gama de entidades especializadas em assessorá-las nas etapas do ciclo de gestão – das próprias organizações e também de suas operações (projetos). As entidades de base percebem com sucesso as demandas e os motivos de suas ações. No entanto, com apoio de especialistas, conseguem ter clareza em suas missões, objetivos de longo prazo e avaliam os conjuntos de oportunidades e ameaças que as cercam. Além disso, as organizações de assessoria são valiosas para garantir qualidade e agilidade na comunicação de atividades, diferenciais e resultados e transparência e eficiência na prestação de contas e no controle de resultados e investimentos.

Por fim, são as organizações de assessoria são instrumentos essenciais para sistematização das estratégias e metodologias desenvolvidas pelas organizações de base. Possuem um importante papel na produção e difusão de conhecimentos e tecnologias sociais. Função que dificilmente as entidades de base conseguem realizar por conta própria.

Os investidores sociais devem considerar que mesmo pequenas e médias empresas solicitam apoio de instituições como o SEBRAE e, sempre que possível, contratam consultores especializados em planejamento, gestão, comunicação e avaliação de outras empresas de consultoria famosas. Na iniciativa empresarial, vale a premissa de que as empresas devem se dedicar o máximo possível aos seus negócios (atividades-fim), contando com o apoio de outras empresas de diferentes segmentos (como consultoria em gestão), para garantir o máximo de eficiência. O mesmo pressuposto deve valer para as organizações do Terceiro Setor.

Novos modelos de apoio a organizações sociais precisam ser desenvolvidos, de modo que entidades de assessoria tenham acesso a recursos para dar o suporte necessário para o desenvolvimento de base no Brasil.

Foto: José Dias (CEPFS - Teixeira/Paraíba) e Gláucio Gomes em reunião na Rummos

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